segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O dia em que Leiria acordou rosa

No Mercado de Santana, na cidade de Leiria, Maria José, funcionária da Câmara Municipal, enchia hoje os últimos sacos de lixo com balões, copos e garrafas de cerveja e champanhe.

Pelas 10h00 já não havia vestígios de que ali o PS tinha comemorado na noite de domingo a vitória eleitoral num concelho que nunca conheceu outros partidos no poder que não o CDS e o PSD.

Raul Castro, o independente que se candidatou pela terceira vez à autarquia nas listas do PS, descreveu a vitória como um marco histórico.

Mas mais do que a vitória de Raul Castro, na cidade de Leiria destacava-se esta manhã a derrota da cabeça de lista do PSD, Isabel Damasceno, que depois de anunciar que não se recandidatava a um quarto mandato, avançou com o apoio da Comissão Política Nacional mas sem o aval da Concelhia, que escolhera o seu presidente, José António Silva, para candidato à autarquia.

“Não foi tudo feito à margem da Concelhia, foi tudo feito contra a Concelhia ”, lembrou Manuel Marques, proprietário da Tabacaria do Teatro há 12 anos, tantos quantos Isabel Damasceno tem à frente da autarquia.

Lembrando que “Isabel queria sair”, Manuel Marques considerou que a derrota da candidata “foi mais um tiro no pé para o PSD” do que mérito do PS.

Para o proprietário, a imposição pelo PSD nacional do nome de Isabel Damasceno suscitou divisões no partido e no eleitorado que vota PSD.

“Acho que José António Silva está a rir e tem razão para isso”, observou, apontando, ainda, o estádio municipal como um investimento que o eleitorado não percebe e que impediu a realização de outras obras.

Já no mais antigo café de Leiria, o “Colonial”, ao qual também se estendeu a festa do PS, cuja sede de campanha se situava em frente, a vitória socialista era o assunto da manhã e prometia ser da tarde e também da noite.

“Leiria acordou rosa”, disse Alfredo Hingá, explicando que a cidade também acordou com “esperança”.

“Foi um terramoto muito grande. O concelho foi sempre de direita”, acrescentou, admitindo ter festejado mais a derrota de Isabel Damasceno - em quem nunca votou - que a vitória de Raul Castro.

O seu companheiro de mesa, João Raposo, militante do PS e eleitor n.º 16 em Leiria, referiu o “trabalho que ficou por fazer e que [a candidata] disse que fazia”, acreditando que “o concelho vai dar uma grande volta” e que a prioridade tem de ser as finanças da autarquia.

Rosa Claudino, a proprietária do “Colonial”, recusava-se a dizer se a mudança de cor na autarquia “era melhor ou pior”.

“Só o tempo o dirá”, comentou, quem, no entanto, também não se revelou nada surpreendida com a vitória, o mesmo sucedendo com José Gonçalves.

“Isto tinha de dar uma volta. Não podemos estar parados no mesmo sítio”, defendeu, desejando que Raul Castro “olhe para os mais necessitados e faça obras nos sítios que estão mais carentes”.

Mas antes, o leiriense realçou a necessidade de Raul Castro “consertar as coisas” na Câmara, financeiramente falando.

Raul Castro foi eleito presidente da Câmara Municipal de Leiria, conquistando cinco mandatos, o mesmo número que o PSD. O CDS-PP manteve o vereador que elegeu em 2005.

Em Leiria, a dúvida reside agora como vai o futuro presidente assegurar a governabilidade da autarquia.

“Não vai ser fácil”, reconheceu Constantino Rodrigues, enquanto um outro cliente do café assegurava que a coligação com o CDS-PP estava garantida.

Lusa (texto)
Sérgio Claro (fotografia)

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